sexta-feira, 18 de março de 2011


A DISTÂNCIA DA PROXIMIDADE


Moro na Barra, mas continuo com as minhas raízes em Padre Miguel e não tenho a menor vergonha disso” (comentário de uma amiga que se mudou para Barra da Tijuca há uns 15 anos atrás)

Por que alguém que mora na Barra teria vergonha de um dia ter morado em outro bairro na mesma região?

Imagem retirada da internet

        -Whiteville é um mega condomínio  onde o idioma oficial é o inglês, assim como os hábitos dos seus moradores, que são referenciados pelo modo de vida norte americano.
-Dentro de Whiteville, dada a grandiosidade de sua estrutura física é possível encontrar de tudo, permitindo ao seu morador desenvolver formas de socialização que lembrem modos de vida totais. Nada que fuja a imaginação humana está de fora. Sua existência é a mais perfeita combinação de conforto, exclusividade e segurança, assegurando a distinção dos seus moradores e a enorme distância que estes guardam com aqueles que ficaram do lado de fora.

Apesar do desejo de viver em um ambiente coletivo que assegurasse ao  morador a defesa da sua privacidade e da sua segurança, algo comum a todos moradores, ela não foi o único fator que motivou a migração de moradores de outros bairros em busca da Barra da Tijuca, notadamente do final dos anos oitenta até os dias atuais.

Norteado num senso comum, ilustrado na sociologia de Pierre Bourdieu (2004), a Barra da Tijuca pode ser responsável pelos efeitos da segregação sócio-espacial da cidade do Rio de Janeiro e principalmente da zona-oeste. 
Para mim é como se a Barra tivesse sido excluída deste espaço e incluída em um novo espaço. Na verdade acredito que houve uma sobreposição espacial naquele pedaço da zona oeste.
  
O aumento da segregação sócio-espacial da Barra, construiu um muro imaginário dentro da zona-oeste, distanciando a proximidade entre os seus moradores. Esse distanciamento traz novos subsídios para estratificação social da zona-oeste, alinhando de forma cada vez mais desproporcional os diferentes segmentos de renda dentro dos seus territórios e ao mesmo tempo tentando aproximar a distância dessa nova região forte economicamente a tradição da zona sul.

Em cidades como o Rio de Janeiro, cujas áreas centrais sempre demonstraram ao longo da história esta morfologia de segregação sócio-espacial, que combina enorme distância de renda com  proximidade física, a disseminação dos condomínios fechados em bairros da cidade, cujas morfologias até então eram marcadas pela predominância de residências sem uma estrutura de confinamento mais explícita, parece ao mesmo tempo reforçar e relativizar esta tendência histórica. Na medida em que, enquanto continua havendo uma sobrevalorização fundiária de determinados bairros da cidade, começa a surgir em bairros que não são classificados como nobres, no caso da Barra, áreas de valorização que passaram a polarizar a relação de classes no seu território.
Estes  condomínios  que  acabam  valorizando o preço da terra urbana, ocupando espaços vazios ou já edificados, cresceram numa eficiente estratégia de marketing urbano. Convencidos, seus novos moradores emergentes migraram para essas áreas dotadas de privilegiadas infra-estruturas, oriundas de um investimento prévio visando incorporar qualitativamente segmentos de renda que acionam a economia urbana. Feita esta escolha o morador da Barra da Tijuca é alguém que está em busca sim, de segurança, qualidade de vida mas principalmente de status.




Carlos Ferreira







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